Pensativa, olhou pela
janela. Um pai, paciente, ensinava o filho a andar de bicicleta. Ainda com as
rodas de apoio, a bicicleta parecia querer tombar mas não tombava. O pai
vigiava-lhe as primeiras pedaladas. Um cão de pequeno porte saltava de um lado
para o outro à frente do velocípede e ladrava alegremente. Cristina sorriu.
Lembrou-se de outros tempos quando Ricardo era pequeno e Fred ainda não tinha
abandonado o lar. As primeiras gotas começaram a cair e um vento desagradável começou
a levantar-se. O pai recolheu a bicicleta e a cria, levando cada um por uma
mão. O cão saltitava agora em frente aos dois e os pensamentos saltitavam na
mente de Cristina. O vento ajudou a varrê-los. Ricardo há muito tempo que não
telefonava e de Fred não fazia a mínima ideia se ainda existia. Foram poucos
anos juntos, anos bons e anos maus, ou melhor dizendo, para ser mais preciso,
anos com dias bons e com dias maus. Tudo acabou num fim de tarde quando as
primeiras gotas começavam a cair. Fred entrou em casa com Ricardo por uma mão e
a bicicleta na outra. Olhou para Cristina e não disse nada. Era inevitável.
Saiu e foi com o vento. Sempre houve e sempre haverá até aos fins dos tempos,
pais que ensinam os filhos a andar de bicicleta. E sempre haverá chuva e sempre
haverá vento.